
Gastronomia
Breve História da Chanfana
Segundo a lenda, a chanfana terá surgido no Mosteiro de Semide. Até ao final do século XIX, todos os agricultores eram obrigados ao pagamento de foros. O mosteiro de Semide era quem recebia os foros dos moradores do seu couto. Muitos dos moradores, porque eram pastores, pagavam as suas «rendas» com cabras e ovelhas.
Como as freiras não tinham possibilidade de manter tão grande rebanho, descobriram esta fórmula para cozinhar e conservar a respectiva carne, aproveitando também o vinho que lhes era entregue pelos rendeiros, o louro, que tinham na quinta, bem como os alhos e demais ingredientes. Surge, assim a chanfana que era religiosamente guardada ao longo do ano nas caves do convento.
A Sopa de casamento, trata-se de um aproveitamento óptimo do molho da Chanfana, que nunca é totalmente consumido. Como é muito saboroso e rico não só em gordura mas também nos sucos de carne, seria pena desperdiçá-lo.
Consta que a origem dos negalhos remonta à época da terceira invasão francesa. Estando a rarear a carne porque os franceses roubavam os rebanhos, a população teve de aproveitar tudo, inclusivamente as tripas dos animais, cuja carne utilizava habitualmente na sua alimentação.
Experimentaram, então, cozinhar as tripas segundo a receita da chanfana e deu resultado.
Arroz-doce à moda do Senhor da Serra
O arroz-doce é uma sobremesa obrigatória nas bodas de baptizado e de casamento.
É ainda hoje usado nesta região como participação de casamento e pretexto para apresentação do noivo. As raparigas do povo, juntamente com a mãe e o noivo, visitam as famílias que conhecem e que não foram convidadas para o casamento, oferecendo uma travessa de arroz-doce, transportada numa cesta e coberta com um pano de linho feito nos teares manuais. Ao fazerem a devolução das travessas, entregavam também os seus presentes de casamento.
Nabada (Doce conventual de Semide)
Um dos doces conventuais mais antigos de Portugal, foram as freiras do convento beneditino de Santa Maria de Semide (segunda maior freguesia do concelho), que o habitaram de 1183 a 1896, que o conceberam à base de nabos, açúcar e amêndoas. As receitas mais antigas reportam ao uso de almíscar, pau de canela, flor de laranjeira e água de rosas.
A Nabada de Semide, é a nova aposta do restaurante "Museu da Chanfana", no Parque Biológico da Serra da Lousã, em Miranda do Corvo, que o reintegrou na gastronomia regional.
A Nabada de transformou-se num mito da gastronomia. Um doce frequentemente referido na literatura sobre gastronomia tradicional e conventual mas que deixou de figurar nas mesas das famílias, nunca tendo sido incluído nos menus dos restaurantes. O restaurante decidiu transformar a nabada, mito da cozinha antiga, em doce realidade que se pode degustar sempre que se deseje.
A ideia de redescobrir este doce conventual que entrou em desuso, feito à base de nabos, açúcar e amêndoas, surgiu quando José Quitério, crítico gastronómico de renome no semanário Expresso, escreveu sobre o "Museu da Chanfana" em Janeiro último.
Na conversa com o "Chef" Vítor Fernandes, José Quitério referiu então que "era uma pena não se honrar a Nabada em nenhum restaurante". Após apurada pesquisa e muitas horas de testes e experiências, Vítor Fernandes conseguiu "apurar" uma Nabada de Semide, com sabor contemporâneo. Esta nabada recriada pelo Chef Vitor Fernandes assenta na memória da receita tradicional, com ajustes em termos de ingredientes e confeção que continuem segredo do restaurante "Museu da Chanfana".
Vítor Fernandes desvenda apenas uma ponta do véu - o segredo é a alma do negócio - e só em relação à base do doce, os nabos: "é preciso conhecer a agricultura, porque as suas raízes em contacto com a humidade continuam sempre ativas, pelo que têm de estar secas três dias antes da confeção sob pena do seu intenso sabor prevalecer, o que não é agradável".
O "Chef" do Restaurante Museu da Chanfana sublinha que a Nabada "também pode ser usada para barrar pão, como acompanhamento de queijo fresco ou curado e até servir para recheio de tartes".
Aos interessados em saborear esta maravilha da doçaria conventual, informa-se que a Nabada está na ementa e com dois sabores alternativos, com amêndoa como constava da receita tradicional, e com noz, numa valorização deste fruto seco produzido na região.